Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2018

Chapéu violeta

Imagem
Aos 3 anos: Ela olha para si e vê uma rainha. Aos 8 anos: Ela olha para si e vê Cinderela. Aos 15 anos: Ela olha e vê uma freira horrorosa. Aos 20 anos: Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair mas, vai sofrendo. Aos 30 anos: Ela olha para si e vê-se muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, cabelo muito liso muito encaracolado, mas decide que agora não tem tempo para consertar e então vai sair assim mesmo. Aos 40 anos: Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa,cabelo muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu sou uma boa pessoa e sai mesmo assim. Aos 50 anos: Ela olha para si e vê-se como é. Sai e vai para onde ela bem entender. Aos 60 anos: Ela olha para si e lembra-se de todas as pessoas que não podem mais olhar-se no espelho. Sai de casa e conquista o mundo. Aos 70 anos: Ela olha para si e vê sabedoria, risos, habilidades, sai para o mundo e aproveita a vida. Aos

Quando me Tornei Invisível

Imagem
"Já não sei em que datas estamos, nesta casa não há folhinhas, e na minha memória tudo está revolto. As coisas antigas foram desaparecendo.E eu também fui apagando sem que ninguém se desse conta. Quando a família cresceu, trocaram-me de quarto. Depois, passaram-me para outro menor, ainda acompanhada das minhas netas. Agora ocupo o anexo, no quintal de trás. Prometeram mudar o vidro partido da janela, mas esqueceram-se. E nas noites que por ali sopra um ventinho gelado aumentam as minhas dores reumáticas. Um dia, à tarde, dei conta de que a minha voz desapareceu. Quando falo, os meus filhos e netos não me respondem. Conversam sem olhar para mim, como se eu não estivesse com eles. Às vezes digo algo, acreditando que apreciarão os meus conselhos, mas não me olham, nem me respondem, então retiro-me para o meu canto, antes de terminar a caneca de café. Faço isso para que compreendam que estou triste e para que me venham procurar...mas ninguém vem .  Um dia disse-lhes:

Somos efémeros

Imagem
No Japão, a flor da cerejeira (sakura) é uma metáfora para a vida. Floresce antes do outono inevitável e é a mais pura manifestação de beleza na cultura japonesa. Em pouco tempo enfraquece e é espalhada pelo vento. A flor de cerejeira é pois o símbolo da efemeridade da vida, já que a árvore só permanece florida por um curto período de tempo. E nesse curto período tempo, recorda-nos de que somos passageiros, e por isso, temos que viver o presente e apreciar cada momento, pois não sabemos como e muito menos quando terminará a nossa “viagem”.

Conto- A Teia

Imagem
****1 O que aconteceu na infância não fica na infância. Segue-me. Corre atrás de mim e apanha-me sempre que paro no caminho. Uns segundos. São só uns segundos de paragem. Para ver o meu rosto. As linhas do meu rosto. Não foi sempre assim. Antes a pele era lisa e não sulcava como um rio seco, quase sempre seco. A minha pele está seca. Antes era lisa e suave como a seda e eu construía-me. Com o quê? Com o que é que me construí? “ Tu, não prestas para nada.”  Olho para um ponto escuro. Olho-o. Flutua no ar no meio do nada. Nunca te sentiste assim? Uma bola feita de negrume a contrastar com a luz do luar, ou com a luz dos candeeiros da rua? Havia um banco. Mesmo em frente da casa. Eu sentava-me lá a pensar na minha pequena vida. Era tão pouco tempo ainda. Tinha uma boneca que se chamava Nicole e um cão perdigueiro que me ensinava a gentileza dos animais. Os olhos dele brilhavam como berlindes debaixo do sol do meio-dia. Se eu chorava ele chorava. Ensinou-me a solidari