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A mostrar mensagens de janeiro, 2018

A morte é uma cortina que se fecha

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O pano cai. A cortina fecha-se. A morte é isso. Uma cortina que se fecha. Se sentimos e amámos, se rimos e festejámos, se sofremos e chorámos, se falámos e magoámos, se vencemos e celebrámos, se perdemos e não encontrámos, se vivemos e respirámos… a morte é uma cortina que se fecha sobre quem e o que fomos. A quem fica, restam memórias, fotografias num álbum e a certeza de que então tudo se altera. Moldados pelas mãos de quem nos deixou, tocados pelo amor de quem nos amou, não voltamos a ser quem éramos porque parte de nós morre também. Que somos nós se não atores no teatro da vida? Cada um recita o seu papel. E a morte que está de sentinela, numa das mãos sustenta o relógio do tempo, na outra, a foice fatal. E, com esta, de um só golpe certeiro e inevitável, dá fim à tragédia, fecha a cortina e desaparece. AK

Não te digo Adeus, Querido Keith!

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É terrível esta coisa de alguém nos morrer. Ao primeiro impacto da notícia, não acreditamos. Depois o mundo desaba sobre nós e escancara-nos a verdade. E ela, tão amarga e dolorosa, cava-nos um buraco imenso. Ficamos vazios. Atordoadamente vazios. Adormecemos em pranto. Acordamos e queremos muito acreditar que vivemos um pesadelo. “Como me morreste se ainda agora ouvi a tua voz?” Juro. Ouvi mesmo. “Hello, Cristina” seguido de um “How are you feeling today?” e o habitual: “Rafael is there?” Ouvi… queria muito ter ouvido, mas afinal era só a memória a fintar a realidade. Acordei, olhei em volta, e percebi que não estavas. Não estás mais.  Que terrível é perder quem amamos. Tocaste a minha, as nossas vidas, indelevelmente. E nisso, tens toda a glória. Quantos de nós podem dizer o mesmo? Quem toca assim as vidas de outros, e para sempre?  Eu recebi o melhor de ti. Que dessa encruzilhada em que as nossas vidas se encontraram, também tenhas recebido o melhor de mim.  Que também te

Hope, 2018!

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Nas viagens que faço ao meu passado encontro muitas vezes uma miúda magricela com a pele muito morena a fingir que fala inglês com os turistas que se passeiam em S.Martinho do Porto. A miúda come gelado “Epá”, sempre na expectativa da última colherada que a recompensa com uma pastilha elástica em forma de berlinde, e volta e meia sai da areia onde já fez buracos, construiu castelos e escondeu todas as conchas que encontrou (os seus tesouros) e vai dar  braçadas na baía, mesmo antes da hora do lanche (pão com marmelada e um Caprisone). Enquanto a madrinha toma café, a seguir ao almoço, a miúda lê livrinhos de banda desenhada e os infantis ( Ruy, o Pequeno Cid e a Heidi), depois saltita até ao parque infantil e diverte-se no baloiço e no escorrega.  Tento perceber que tipo de sonhos a miúda acalenta, o que quer ela para o futuro, mas constato que a miúda é muito feliz a ler e a falar com os turistas, de quem quer saber muito, quer saber tudo, e chego à conclusão que a miúda go

Natais

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Lembro-me bem do caminho que fazíamos a pé para casa da Tia Júlia.  Atravessávamos a estrada macadame, metíamos por um atalho térreo, lamacento no inverno e empoeirado no verão. A avó guiava-nos através dos trilhos, andava em passos pequeninos para nos acompanhar, deixava-nos descansar à sombra das oliveiras. Subíamos a encosta ladeada de figueiras, comíamos os figos quando maduros, apanhávamos nêsperas ainda verdes, tão azedas que nos deixavam a língua áspera como a de um gato.  Cantarolávamos canções populares e seguíamos saltitantes até ao cruzamento de alcatrão. Dali ao casario era uma descida de poucos metros. De um lado e do outro, vinhas. Que barrigada de morangueira nos espreitava dos muros!  Ao lado do curral da burra que me suportava nas longas caminhadas, um pirliteiro de ramos espinhosos. Exibia lindos cachos de pirlitos nacarados, qual romãs mal acabadas de nascer. Apanhava uns quantos até encher os bolsos depois de prometer à avó que não os enfiava no nariz