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A mostrar mensagens de janeiro, 2019

Morreste-me...

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Avó…não te digo nada que não te tenha dito antes. Entre nós não ficaram coisas por dizer. Amo-te, amo-te. Disse-to tantas vezes. Ouvi-o de ti tantas vezes. Fomos tão felizes, avó.  Eu e tu, tu e eu. Não há nada que o meu coração não guarde de todos os dias que partilhámos nesta Terra. É o teu rosto que me acorre às primeiras lembranças da infância, a tua voz a chamar por mim, o teu riso a fintar as tuas tristezas, as tuas mãos ásperas, calejadas, as tuas mãos terra sobre a minha face, enxugando lágrimas. O teu café de borras, avó…ainda lhe sinto o gosto. E aquela aragem fina que passava pelo meio dos pinheiros quando caminhávamos juntas nos dias em que carregavas lenha. O mosto condensado nas tuas mãos em dias de vindima e as tuas cantigas que afastavam o cansaço. Tudo em ti é agora a mais terna das lembranças, mas não viveste em vão, avó. Não foi para nada cada dia em que acordaste, nem se reduziu à insignificância cada vez que respiraste. Eis-me aqui: a semente que atiraste à ter

Meu Menino

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Meu menino, canta canta essa canção que só tu entendes e te faz sorrir Meu menino, brinca  Brinca e não sintas a minha dor por te ver partir. Tens nos olhos os mistérios  D'um mundo que só tu vês e que eu não vejo  As pedrinhas na tua mão A flor silvestre que me estendes É uma luz que em mim acendes  E plantas no coração Meu menino,  Onde estão agora os teus passinhos ágeis? Onde estão menino, as tuas mãos pousadas?  As tuas asas, menino? Aonde as tens quebradas? Os teus bracinhos frágeis? Já não me pedes colo, menino Já não me pedes nada Já não corres pela casa Não esventras a noite com o teu choro Não me acordas de madrugada E eras d’ouro, menino. Eras o meu menino d’ouro. Por alma do meu sonho, vá… Canta, menino, canta Partiste, mas o meu amor por ti resiste Não morreu como se finou a esperança Encho-te o caixão dolente De roxas violetas, triste cor🌷 Partiste sim, menino Mas por ti, ainda resiste o me

Kilimanjaro (Conto)

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Naquela tarde, naquele fim de tarde, Joana correu uma vez mais pelo relvado do parque, subiu a estrada atravessando o bairro residencial, passou em frente da escola, onde, uma fila de carros parados aguardava a campainha que assinalava o fim de mais um dia de aulas. Tão mais fácil aquela leveza com que as crianças encaravam a vida. Era o início de Verão de um ano qualquer. Dali a poucos dias elas, as criancinhas, estariam de férias, votadas às brincadeiras e ao tempo que não se esgotava nem se compartilhava em horas para deveres, para isto e aquilo. Que saudades de ser criança. Parou de as olhar, quando o telemóvel lhe vibrou no bolso. O Luís. “Estou online ”. Acelerou a corrida, desejando com um passe de mágica atravessar o portão que a separava de casa. A pressa, a correria que lhe invadiu as veias, impeliu-lhe o coração a bater mais depressa. Desordenadamente. Um fulgor que aumentava dentro dela e lhe fazia formigar o corpo. Sabia que aquela era a hora em que o enco

Always and always

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E assim se passou um ano. Um ano sem ti. Há coisas que o tempo não apaga. O tempo não apaga os mortos que amamos. O tempo pode, se a distância assim o determinar, apagar os vivos que amamos. Ou o amor que lhes temos. Os mortos não. Os mortos são na verdade eternos, eternos enquanto alguém os carregar no coração e na memória. É esse, se calhar o maior paradoxo da morte, porque a morte na verdade não mata, mas eterniza. Love you, Keith Lewis . Always and always, and always...