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A mostrar mensagens de maio, 2020

Misantropia

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Não, o vírus não nos tornou pessoas melhores. Nenhum vírus será capaz de nos tornar pessoas melhores. Nem um terramoto, nem um tsunami, nem vulcões ou furacões, nem meteoritos, nem uma nova era do gelo.  Enquanto existirem humanos eles continuarão a ser os humanos que sempre foram: avarentos, egoístas, egocêntricos, desumanos. É essa dicotomia que nos dá forma. A humanidade sendo desumana. A desumanidade, é o que talvez, ironia das ironias, nos torna humanos.  A promessa de que nos faríamos melhores foi só uma promessa. Seguimos iguais ao que sempre fomos.  A ética é só uma ideia que não praticamos.  Depois de dois meses de clausura, maravilhados com os sinais de liberdade da natureza, as papoilas nos passeios, os cervos nos jardins, os golfinhos nos canais, os pássaros em voos mais afoitos e pigarreando mais alto, os céus libertos de poluição e voltam os humanos à vida de sempre, ávidos por consumo, ávidos por Zaras e Mangos e por viagens e hotéis, por ter, por ter, por ter. Ma

Somos Imortais, mas temos que Morrer primeiro

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Imagino que em breve a neve volte a cair. Ouves o Alexandre?  “Somos um soluço do acaso”. Concordo. Somos.  E, todavia, a felicidade é uma erva daninha que cresce até em corações inférteis…e sim, o meu é infértil como a terra árida de um deserto. No fundo, sou apenas um prego cravado a furtar-se à dor.  Costumava acordar cedo, ainda as manhãs se espreguiçavam no horizonte, mandava uns bafos para o vidro embaciado, limpava-o com as mãos e espreitava a rua. Como vês, eu era uma formiga. Não era assim que me vias? Não era assim que te sentias, a espreitar a vida de uma formiga? Agora está a nevar e pelo meio dos flocos de neve espreitam raios de sol. E logo a seguir o sol esconde-se. Depois, pelo meio dos flocos de neve espreitam os pingos da chuva.  Eu entendo-te. Tem o seu interesse espreitar a vida das formigas. Estudá-las até. Eu estudava-as, sabias? Com uma lupa, às vezes. Quando era mais pequena, nessa altura sim, usava uma lupa e espalhava-lhes açúcar nos carreiros só

Felicidade II

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Era dura com os outros, mas implacável consigo mesma. Nunca se deixou ser feliz.

Reconhecimento

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Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra.

Iluminação

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De onde vem essa iluminação que chamam de amor, que se contorce, se enleia, se turva toda e ofusca e apaga-se e acende-se como uma faísca num curto circuito, sem nunca mais voltar àquela primeira iluminação?

Marcas

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Viu-a, pesada, a atravessar a rua. Trazia no semblante a marca de não sorrir há muito tempo, os maxilares cerrados. Tinha tudo para sorrir. Menos a vontade.

Das distâncias...

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Juro que adormeci ao teu lado, mesmo estando tu tão longe...

Felicidade I

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"A felicidade dos homens casados depende das mulheres com quem nunca casaram." Oscar Wilde

Nau dos Corvos

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Nau dos Corvos (Peniche) Uma foto belíssima de António Laranjeira

Um dia de monja, um dia de puta, um dia de santa,um dia de merda.

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Acho sempre piada a esta variação ideológica que atribuem à minha pessoa. É incrível como basta tão pouco para que os outros nos posicionem à esquerda ou à direita, no fascismo, ou no comunismo e até no nazismo, conforme as opiniões que divulgamos sobre esta ou aquela figura, esta ou aquela ideia. Já me acusaram de ser comunista, de ser de extrema esquerda, fascista, nazi, enfim...na verdade acho que sou cada vez mais apartidária porque não consigo ficar como estátua de sal num lugar ou noutro das várias ideologias. Por mim, viveria bem num país onde o regime vigente soubesse aproveitar o que cada uma destas correntes de pensamento tem de melhor. Por exemplo, eu viveria bem num país onde se fosse buscar ao comunismo as garantias e direitos dos trabalhadores, mas onde o progresso pelo mérito não se tornasse irrelevante. (essa coisa do mérito puxa, claro está, ao fascismo) Mas também bem num país onde quem trabalha pudesse viver dignamente dos frutos do seu trabalho, o que me leva

A Fuga de Wang Fô

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Fui desafiada para gravar um pequeno video, contando uma história e, desta vez, aceitei o desafio. Deixo aqui um belissimo conto de Marguerite Yourcenar " A Fuga de Wang Fô" que tem tanto de belo quanto de emotivo. Espero que gostem.

Na revista brasileira Corrente d'Escrita.

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"A minha Pátria é a língua portuguesa" (Fernando Pessoa)

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Hoje é o Dia Mundial da Língua Portuguesa e é em português que escrevo tentando, humildemente, honrar a única coisa que, quando tudo o resto falta, me faz (ainda) sentir portuguesa. A pátria não são os homens nem é a terra lavrada o chão por onde caminho, o trigo, o pão ou o vinho A Pátria é a Palavra Não é a vida que escorre nem é o soldado que morre Não é pátria o camponês tão pouco é pátria a ceifeira, a pátria é o português que vai além da fronteira O que dizemos aos filhos, o que contamos aos netos são tão pátria os eruditos como o são analfabetos Em todo o verso declamado a pátria, às vezes, é tonta o vernáculo que afronta a pátria às vezes é fado De Afonso Henriques a Salazar De Soares a Cunhal A Pátria não é o homem que se idolatra ou se teme A Pátria não é o homem do leme A Pátria é Portugal! E Portugal não é Lisboa não é Brasil, nem é Goa A Pátria é onde não se cala a voz do povo que fala a língua de Camõ