Um dia de monja, um dia de puta, um dia de santa,um dia de merda.

Acho sempre piada a esta variação ideológica que atribuem à minha pessoa. É incrível como basta tão pouco para que os outros nos posicionem à esquerda ou à direita, no fascismo, ou no comunismo e até no nazismo, conforme as opiniões que divulgamos sobre esta ou aquela figura, esta ou aquela ideia. Já me acusaram de ser comunista, de ser de extrema esquerda, fascista, nazi, enfim...na verdade acho que sou cada vez mais apartidária porque não consigo ficar como estátua de sal num lugar ou noutro das várias ideologias.
Por mim, viveria bem num país onde o regime vigente soubesse aproveitar o que cada uma destas correntes de pensamento tem de melhor. Por exemplo, eu viveria bem num país onde se fosse buscar ao comunismo as garantias e direitos dos trabalhadores, mas onde o progresso pelo mérito não se tornasse irrelevante.
(essa coisa do mérito puxa, claro está, ao fascismo) Mas também bem num país onde quem trabalha pudesse viver dignamente dos frutos do seu trabalho, o que me leva para a Direita, "doucement".

Viveria bem num país onde fosse fácil começar e recomeçar. Onde, para sermos donos de nós mesmos não nos obrigassem a sermos escravos...escravos dos bancos que nos emprestam dinheiro com os juros de agiotas e escravos do Estado que nos rouba tudo o que ganhamos.

Viveria bem num país onde realmente houvesse uma representatividade democrática. Onde o poder judiciário fosse realmente independente dos poderes executivo e legislativo e onde a única intervenção do Estado fosse assegurar que toda a gente lhe tem acesso. (aqui caio no socialismo).
E que a legislação não fosse inexequível nem ambígua, não tivesse rasteiras ou buracos por onde se pode meter aquele que mais dinheiro tem para pagar ao melhor advogado.
Um país sem despotismo nem nepotismo, também seria um país em que eu viveria bem.

Viveria bem num país onde a comunicação social fosse realmente livre. (Democracia, Democracia, Democracia!) E onde fosse dado valor à cultura. Não, dar valor só não chega, teria que se enaltecer a cultura, tratá-la como à menina dos nossos olhos.

E os políticos, teriam que ser policias dos seus pares e de si mesmos. Então sim, eu viveria num país onde não há lugar para desculpas, onde cada erro tem consequências, como já o tem a mulher a dias que parte uma peça da Vista Alegre na casa da sua Senhora ou a empregada de balcão que é despedida porque vai à casa de banho fazer o seu xixi na hora do expediente (sim, isto acontece em Portugal e cheira-me a ditadura, agora reflictam sobre o que acontece a quem nos governa e comete erro atrás de erro? Nada! Assim, parece-me que entre o povo já se vive debaixo de forte autoridade enquanto que a classe politica vai aprimorando a sua anarquia.

Viveria bem num país onde o estado encolhesse as garras que, frequentemente, estende aos agentes económicos (olhem, sou liberal), mas que nunca largasse da mão o que é essencial para todos: a educação e a saúde (não, sou socialista outra vez).
E eis que, viveria bem num país onde os poucos traços positivos do nazismo fossem chegados à frente, como os da busca incansável pela beleza.
Às vezes ponho-me a imaginar o que seria viver num país onde as ruas das zonas industriais não fossem feias e cinzentas, onde as fábricas fossem obrigadas a ter espaços de lazer, e os operários obrigados a assistir a 1 concerto de música erudita a cada 6 meses, a uma peça de teatro a cada outros 6 e a ler, ao menos, 1 livro por mês.
Sim, obrigados, que está mais que visto que as pessoas não sabem o que fazer com o seu tempo e, frequentemente, escolhem o que as estupidifica e reduz ao invés de escolherem o que as cultiva e faz crescer.
(Olha, a gaja é de extrema direita!)

Viveria bem num país onde as entidades patronais fossem obrigadas a proporcionar aos seus trabalhadores 1 hora de exercício físico por dia, e que os trabalhadores fossem obrigados a respeitar isso. ( aqui a minha posição é ambígua, lamento confundir-vos. Patrões chamar-me-ão comunista, empregados que não gostam de exercício físico dirão que sou fascista, os que gostam hão de dizer que sou uma tipa porreira)-

Viveria bem num país onde qualquer desporto, passatempo ou actividade que infligisse dor desnecessária e gratuita a pessoas ou animais, qualquer animal, fosse irrevogavelmente banido. (isto é capaz de me roubar ao campo da politica e atirar-me para o da religião...mas não será também a religião, politica?
Na verdade eu gostaria de viver num país onde o respeito por seres que nos servem de alimento fosse ensinado, desde cedo, nas escolas. (nãaa...caramba...a fulana é mesmo de extrema esquerda!)
E depressa passo para a extrema direita quando digo que viveria bem num país onde o aborto fosse apenas um último recurso para salvar vidas e nunca para matar e viveria bem num país onde o pilar da sociedade que ainda é a Família jamais fosse posto em causa (não se esqueçam que sou de direita!), mas que o papel da mulher não pudesse reduzir-se jamais ao papel de mãe e esposa/fada do lar...(ups, voltei a fugir para a extrema esquerda!)

Viveria bem num país que prezasse a sua soberania, que soubesse tirar partido dos seus recursos e se recusasse a ser vassalo de outro. (e aqui pareço uma reaccionária monárquica a querer trazer para o presente as glórias do passado.)

Viveria bem num país onde o objectivo não fosse sermos todos iguais, mas onde se cultivasse a consciência de que somos todos diferentes, e que para cada individuo há um nome e uma história e não um número. Tipo, assim, um país onde estas discussões sobre etnias, cores de pele e culturas diferentes não fosse sequer motivo para debates, estão a ver? Porque isso sim, seria sinal de que vivo num país de gente que já amadureceu e sabe que todos os problemas, todos, têm origem nas pessoas mas não correm nas suas veias, e que as pessoas sendo a sua circunstância precisam de ajuda para alterar a sua circunstância e não de criticas que as lembram constantemente da sua circunstância.
Há algum nome para esta miscelânea de valores,pequenas peças das várias engrenagens ideológicas que guerreiam entre si, mas que se complementam?
Não sei onde me fico, nem que rótulo me assenta bem. E se eu não sei, como é que vocês hão de saber? Para já, sei que não me revejo nesta Idiocracia, neste regime de idiotas. Isso basta-me.

Ana Kandsmar

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