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A mostrar mensagens de dezembro, 2018

O Fantasma de um Natal Futuro (Conto)

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Já não nos vemos há séculos. Eu e tu, em dias de aniversários que quase se tocam, lembramos, tenho a certeza, do tempo em que nos festejávamos juntos, intervalando apenas por 24 horas de consciência natalícia, que afinal a época é de outros festejos e bem mais importantes que os nossos parabéns ofuscados pela estrela de Belém.  Imagino-nos daqui a uns anos, poucos que não nos queremos velhos, apenas o suficiente para se somarem às rugas da nossa pele mais umas quantas rugas, e aos nossos cabelos brancos mais uns quantos cabelos brancos, rendidos ao cansaço e frenesim da quadra, encostados ao balcão de uma livraria. Eu a balançar um papel nas mãos, santo e senha para mais meia dúzia de compras, um livro, um perfume, uma gravata, talvez uma caixa de chocolates, filha és e mãe serás. Tu na fila, em modo de espera impaciente pelo último furor da literatura, que entretanto alguém embrulha atrás do balcão numa folha ocre de papel pardo. No abandono resignado do encosto, sentire

Cidália ou Cidalina?

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Não me recordo do nome. Era lourinha, magricela e adorava saltar à corda e ao elástico. Lembro-me de que usava óculos. E tranças no cabelo, que prendia com fitinhas coloridas. O autocarro da escola dava a volta ao norte do concelho e ela era a penúltima (a última era eu) a sair numa aldeia pequenina, na verdade, não mais que um lugarejo com duas ou três casas e muitos campos de cultivo pelo meio. Era então a minha melhor amiga. Abraçámo-nos no último dia de escola, antes das férias grandes. Eu tinha transitado para o 3º ciclo, ela não. Ficara retida com negativas que a acompanhavam desde o primeiro período e das quais não conseguira recuperar. Chorámos agarradas uma à outra, cientes de que a separação definitiva nos esperava. Ela não continuaria os estudos. Os pais, a quem a pobreza assistia fielmente desde o princípio da vida, ditaram que não havia lugar a segundas oportunidades. Era pois o trabalho que a esperava.  Aquele abraço, o último que demos, eternizou os no