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A mostrar mensagens de junho, 2019

Preciso das Palavras...

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Quem?

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"Ao fundo da sala, uma curiosa sucessão de telas, aguarelas e óleos, tapados com lençóis brancos que quando levantados deixavam ver desenhos surreais, pinturas assinadas com um «S.», cujas imagens de edifícios eram totalmente diferentes da arquitectura inglesa, em particular, uma que se repetia, uma espécie de edificação pós-modernista, um bloco, sem telhados nem beirais com grandes janelas em vidro, rodeado por jardins no alto de uma vila piscatória. Uma colina, um porto, um estacionamento para automóveis bizarros, tão diferentes do nosso Ghost. Numa outra tela, logo ao lado da primeira, uma mulher cujos olhos se escondiam atrás de um par de óculos escuros, parecia sondar o passeio de pedras brancas, e apoiava-se numa bengala. Via-se ainda uma outra mão sobre a dela. Parecia uma mão masculina que a ajudava a suster-se, no chão desnivelado da calçada. Parecia uma mulher cega. Quem seria? Quem seria ela? Que rosto seria aquele que tanto fascinava Sam, a ponto de ele o pintar, e qu

Não te rendas

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Não te rendas, ainda estás a tempo de alcançar e começar de novo, aceitar as tuas sombras, enterrar os teus medos, largar o lastro, retomar o voo. Não te rendas que a vida é isso: continuar a viagem, perseguir os teus sonhos, destravar os tempos, arrumar os escombros, e destapar o céu. Não te rendas, por favor, não cedas, ainda que o frio queime, ainda que o medo morda, ainda que o sol se esconda, e se cale o vento: ainda há fogo na tua alma, ainda existe vida nos teus sonhos. Porque a vida é tua, e teu é também o desejo, porque o quiseste e eu te amo, porque existe o vinho e o amor, porque não existem feridas que o tempo não cure. Abrir as portas, tirar os ferrolhos, abandonar as muralhas que te protegeram, viver a vida e aceitar o desafio, recuperar o riso, ensaiar um canto, baixar a guarda e estender as mãos, abrir as asas e tentar de novo, celebrar a vida e relançar-se no infinito. Não te rendas, por favor, não cedas: mesmo que o frio

Anda cá, regressa ao meu útero, não te quero fora, onde cresces e me desamas

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Podia inventar um mar de rosas do que é ser mãe, esconder as penas atrás de uma argamassa de sorrisos babados ou, então, desvendar o fardo para que todos vejam que não foi o diabo que vos carregou, fui eu. Mas às vezes, (tenho dias) que do que gostaria mesmo, era de inventar uma forma de nos conhecermos outra vez, regredirmos àquele momento em que o meu corpo se rasgou para vos dar ao mundo e a partir daí, refazer tudo, atirar para fora do caminho que já percorremos, todos os erros, todos os dias azedos, cinzentos, dias de chuva, em que senti o vosso amor por mim a meio termo, em quarto minguante. Ver-vos crescer não é (para mim) a melhor coisa do mundo, desculpem lá.  Hoje, já são maiores e vacinados, a maioridade deu-vos a vida, a vacinação dei-vos eu mas, infelizmente, não aquela de que precisam para ficarem imunes à maldade dos outros, à descrença, à desilusão que é sempre tanta e vem de tantos lados, improváveis e surpreendentes lados…enfim, habituem-se, porque isto de viver n

Lagoa de Óbidos

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Foto de João Jales

Absurdo

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"penso no absurdo de escrever. De estar a escrever quando podia estar com os amigos, ir ao cinema, ir dançar que é uma coisa de que gosto... mas não, um tipo está ali e é um bocado esquizofrénico." António Lobo Antunes

De quando te dava música

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De quando te oferecia de bandeja as claves de sol em decíbeis que não soubemos manter nos limites autorizados pela lei. Distorcemo-nos em ruídos de fundo e exagerámo-nos como sopranos nas notas altas.  Hoje são diferentes as músicas que nos largamos aos ouvidos.  Eu arranho os meus poemas em acústicos solitários, treino acordes que empoleirados enfeitam as estreituras das pautas, afino cordas e assoberbo-me nas canções que nunca dançámos e no amor que nunca vivemos. Devolvo-me assim aos meus próprios sons. Àqueles com que às vezes me apetece furar-te os tímpanos e rasgar-te a pele com a argúcia das palhetas.  Pouco me importa se os teus gostos mudaram. Nem tão pouco me choca que nunca tenhas percebido a perfeição na harmonia do Jazz ou a profundidade e o calor do Soul. Já não me pergunto sequer, se enquanto nos cantávamos em dueto, te ouvia em headvoice ou falsete. Mas incomoda-me que desperdices os teus ouvidos no acre dos metais que, nem são afinal, assim tão preciosos. Ad

Wang Fô

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Sempre dei livros aos meus filhos. Cedo, muito cedo, vários volumes de livros infantis, contos, Os Irmãos Grimm, Christian Andersen, Disney… Depois os juvenis; a História de Portugal; Ciência, Civilizações Antigas; As Grandes Construções do Homem; mistérios e lendas; muita banda desenhada, Tintin, Asterix, Corto Maltese, os maravilhosos contos de Marguerite Yourcenar : A Fuga de Wang-Fô, (ainda hoje choro quando o leio). Enfim, paredes e mais paredes forradas de livros e hoje posso dizer que só não os tenho na casa de banho. Por gosto e necessidade lá fomos coleccionando histórias de todos os tamanhos e para todos os gostos. Por necessidade, confesso: Eça, Camões, Camilo. Por gosto, Pessoa, Virgílio, Saramago, Lobo Antunes, Natália Correia, Florbela Espanca. Saltamos de livro em livro, de história em história como quem salta pocinhas e procura mergulhar nas profundezas do saber. Cá em casa lê-se de tudo e cresce-se com o que se lê. Aprendemos, sonhamos, emocionamo-nos, choramos e rimo

Fim de Primavera

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E então, veio a velhice sobre o meu corpo Quedou-se nas minhas veias, nos meus olhos E a vida que agora é grande, sabe a tão pouco A tantas teias, tantas cercas, tantos folhos Que então, não voltei a florescer Sou uma rosa em fim de primavera Cuja vida torna ainda a acontecer Mas jamais será como ela era Aceito docilmente que a noite tombe Que sobre os meus ombros se deleite Que as auroras as deixei, não sei bem onde São hoje, nos meus sonhos, puro enfeite. Ana Kandsmar Fotografia Sandra Ventura

Austeridade

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Aos domingos de manhã voltava à igreja. Em silêncio, de joelhos dobrados sobre o genuflexório, a testa pousada sobre as mãos unidas, pedia fervorosamente aos santos que a observavam, que a ajudassem a refazer a vida. Era uma merda de vida, aquela que se lhe apresentava todas as manhãs. Não era só a falta de dinheiro,mas a falta de perspectiva que mais a amargurava. A estagnação era como uma teia em que se sentia presa, emaranhada num novelo áspero de desilusão e incerteza. Volta e meia sucumbia ao medo. Sentia-se banhar em suores, o coração começava a bater muito lentamente, cada vez mais lentamente, como se lhe fosse parar e o ar faltava-lhe. Ela abria a boca para o procurar, ao menos que lhe entrasse nos pulmões algum resquício de oxigénio, mas o oxigénio fugia-lhe. Escondia-se agora, quiçá, atrás dos santos que lhe deitavam olhares condescendentes ou no interior da caixa das hóstias, encolhido; ou descia sub-repticiamente pelo ralo da pia batismal. Tanto fazia. Aquele luga

Agustina

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No meu 9º ano os colegas de turma chamavam-me Agustina. Por duas ou três vezes levaram-me às lágrimas. Não o considerava um elogio e não era. Aquele “Agustina” saia sempre com um desdém que me batia como se um azorrague nas costas de Cristo. Feria-me e desorientava-me. Sobretudo, entristecia-me porque eu não queria ser gozada por gostar de escrever, e não queria que a Agustina, de quem eu já gostava tanto, fosse gozada graças a mim.  Se os meus colegas do 9º ano alguma vez tivessem lido Agustina, saberiam que chamar-me tal nome embaraçava, sobretudo, a Agustina.  Se tivessem alguma vez lido Agustina, compreenderiam a injustiça, a quase blasfémia da comparação. Nada do que eu escrevia na altura, e até mesmo o que escrevo hoje, se pode comparar ao que escreveu Agustina.  É uma pena que tão poucos a tenham lido.  É uma pena que aqueles que tentaram insultar-me, chamando-me Agustina, nunca tenham percebido que aos aprendizes não se dá a pele dos mestres, mas pode acutilar-l

1 ano!

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Fez hoje 1 ano que o meu romance A Lenda do Havn foi parar a outras mãos que não as minhas. A sala estava cheia de amigos, conhecidos e desconhecidos. Foi um dia bom e recordo com muito carinho todos quantos fizeram parte dele.   Obrigada.💖