Não te digo Adeus, Querido Keith!
É terrível esta coisa de alguém nos morrer. Ao primeiro impacto da notícia, não acreditamos. Depois o mundo desaba sobre nós e escancara-nos a verdade. E ela, tão amarga e dolorosa, cava-nos um buraco imenso. Ficamos vazios. Atordoadamente vazios. Adormecemos em pranto. Acordamos e queremos muito acreditar que vivemos um pesadelo. “Como me morreste se ainda agora ouvi a tua voz?” Juro. Ouvi mesmo. “Hello, Cristina” seguido de um “How are you feeling today?” e o habitual: “Rafael is there?” Ouvi… queria muito ter ouvido, mas afinal era só a memória a fintar a realidade. Acordei, olhei em volta, e percebi que não estavas. Não estás mais.
Que terrível é perder quem amamos. Tocaste a minha, as nossas vidas, indelevelmente. E nisso, tens toda a glória. Quantos de nós podem dizer o mesmo? Quem toca assim as vidas de outros, e para sempre?
Eu recebi o melhor de ti. Que dessa encruzilhada em que as nossas vidas se encontraram, também tenhas recebido o melhor de mim.
Que também te tenha oferecido alguns momentos de alegria. E que eles te acompanhem agora nesse lugar onde estás. Para que os revivas quando a eternidade te aborrecer. Para que te recordes que a tua vida terrena foi plena de amor. Que tantos te amaram, e que outra coisa podíamos fazer, nós, abençoados pela tua presença nas nossas vidas?
Fiz hoje, por ti, a viagem mais triste de todas. Aquela em que fazemos quilómetros para entregar o corpo de quem amamos e em troca trazemos pó.
Fi-lo porque o pediste. Enquanto seguia no carro maldito da funerária, encostei a minha cabeça ao vidro, fechei os olhos, e por momentos vi-nos no alfa pendular, a caminho de Guimarães.
Falaste das festas na embaixada, do teu primeiro emprego em Londres, da infância em Atherstone. Agora, seguias em silêncio. Um silêncio pungente. Enfiado numa caixa, a caminho de um crematório, lugar horrível…frio, cinzento, a cheirar a morte. Se eu fosse capaz de te ouvir, dir-me-ias que detestaste aquele lugar. Eu sei que detestaste. Eras tão cheio de vida! E é por isso, insuportavelmente triste que de tanta vida tenha sobrado tão pouco. Cinzas. Apenas cinzas. Levámos-te, inteiro, e só trouxemos cinzas.
Mas é a tua voz que lembrarei para sempre, o teu sorriso, a tua imensa generosidade, a tua luz tão vibrante!
Viverás no meu coração até ao dia em que ele deixar de bater.
Não te digo Adeus, querido Keith.
Digo-te: Até um dia!
(Porque não é o fim).
AK
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