A Casa

"À casa que foi nossa, não mais voltei. Minto. A estrada que lhe é larga na frente, serpenteia por entre arbustos que me escondem e eu espreitei-a, amiúde, nos dias seguintes à minha ausência, ao fecho definitivo da porta, à entrega das chaves. Depois disso, não mais retornei. Minto. Passei-lhe em frente ainda ontem, o carro deslizando devagarinho a rua deserta, ao compasso de um cortejo fúnebre, lento, lento. Vislumbrei num rompante, de desdém calcinado, a fachada curvilínea, o mármore da pedra emoldurando as janelas translúcidas. Minto. Em sobressalto, mirei o abandono da casa fechada. Doeu-me a secura curvada das roseiras que plantei em tempos e chorei a seda descuidada das suas pétalas. Quando também o futuro me parecia a direito e alinhado a prumo, levei à terra as hortenses azuis alongando o muro, a palmeira que cresceu viçosa ao centro da relva, a hera atrevida trepando os arcos. “Vende-se”. Segui, indiferente, que na vida não se pode olhar para trás. Minto....