O Fantasma de um Natal Futuro (Conto)
Já não nos vemos há séculos. Eu e tu, em dias de aniversários que quase se tocam, lembramos, tenho a certeza, do tempo em que nos festejávamos juntos, intervalando apenas por 24 horas de consciência natalícia, que afinal a época é de outros festejos e bem mais importantes que os nossos parabéns ofuscados pela estrela de Belém. Imagino-nos daqui a uns anos, poucos que não nos queremos velhos, apenas o suficiente para se somarem às rugas da nossa pele mais umas quantas rugas, e aos nossos cabelos brancos mais uns quantos cabelos brancos, rendidos ao cansaço e frenesim da quadra, encostados ao balcão de uma livraria. Eu a balançar um papel nas mãos, santo e senha para mais meia dúzia de compras, um livro, um perfume, uma gravata, talvez uma caixa de chocolates, filha és e mãe serás. Tu na fila, em modo de espera impaciente pelo último furor da literatura, que entretanto alguém embrulha atrás do balcão numa folha ocre de papel pardo. No abandono resignado do encosto, sen...