Old Game

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Diz-me… quando fixas os meus olhos parados a olhar os teus, as minhas frases curtas, comedidas, refreadas, um “sim é verdade, eu amo-te”, o que fazes? Enches o peito de orgulho nas tuas competências de sedução, ainda que para isso nem mexas uma palha, ris-te a bandeiras despregadas ou abres um champanhe francês para comemorares a vitória?
 Vá lá, podes admitir que vês em mim um jogo e que me contemporizas as derrotas de cada vez que eu carrego no “send”. Aliás, em cada cartada, arrecadas mais um troféu. Sim, podes chamar a isto um jogo. Eu não me importo. Seja então um jogo. Um jogo arrancado da vida, o que faz dele um jogo muito maior. A mim, que me fico pelas damas e um péssimo xadrez, falham-se-me por isso as analogias. 
A memória curta não me faz adversária decente, qualquer expressão no meu rosto já está catalogada por ti e por isso nem me adianta gritar-te “bullshit” porque a distracção congénita que me governa dissolve-me a acutilância e o atino, necessários à função. 
Perco até a feijões, excepto quando a sorte me golpeia e eu nem sequer me mexi, e não me é difícil imaginar que, neste preciso momento em que me lês, eu descarte várias boas jogadas, daquelas de mão cheia. Mas a vontade de espalhar pelo tampo da mesa as cartas escondidas, à bruta e à estúpida, tenta-me quase tanto quanto a batota. 
Imagino-te um bluff excelente e eu, uma principiante dispersa, nestes esquemas do desprezo calculado. Quando nada te digo, é porque nada tenho para te dizer. Não pago para ver, não me lembro que cartas já saíram e não sei quanto valem as que tenho na mão (nunca dei atenção às regras). Já tu? “Bullshit”! Calas-te para ficares à “coca”, em surdina, na penumbra, até me veres um movimento em falso, uma expressão aflita, à espera que entregue os trunfos ou desista da aposta.Pois, tanto rodeio, apenas, para te dizer que te sei aí desse lado, a rondares-me a inépcia perdedora.
 E para quem, perdido por cem é perdido por mil, atiro-te à cara o resultado do joguinho de hoje. Não houve batalha naval, não tive paciência para a bisca, e no meu xadrez já quase não tenho peões. Por isso desta vez escolhi eu: Palavras cruzadas. Sinal de partida no toque do meu telefone.

Encontrei a primeira ainda estavas em linha. Mas não, não ta disse. Estava na diagonal: Amo-te. 
Segunda palavra, ali escondida na vertical: (Um jogo viciado ou eu viciada em ti.)Também é Amo-te.
E na horizontal, que julgas tu? Claro que pensas que não fiz um jogo honesto, que nenhum sudoku tem três vezes a mesma palavra. Mas não se pode ganhar sempre, pois não? 
AK

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