É oficial: Esqueceste-me...

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Sou uma dessas tolas rendidas ao conforto do cepticismo quando se me anuncia a notícia nas gordas dos jornais: É oficial. Esqueceste-me. 
Ao invés de aceitar o facto, ali na primeira página e nas notas de rodapé que abrem a informação em horário nobre, o que faço? Rio-me zombeteira do sensacionalismo barato, da pobreza jornalística e desatino no zapping corredio pela centena de canais. 
É oficial, esqueceste-me. Qual quê? Quero comédias românticas, P.S. I Love You, As Palavras que Nunca te Direi perdidas num qualquer Diário da nossa Paixão. Quero a fuga da Verdade Dolorosa ali escarrapachada em Diário da República, numa mescla de revogações e contorcionismo legislativo, daquele que é geral e obrigatório em todo o continente e ilhas. É oficial. 
Que se fodam as notícias, a indiferença que me tens escancarada nas capas das revistas, nas páginas dos jornais online e na tinta dos papéis. 
Que se fodam as notícias. Que se fodam os ardinas que te apregoam nas esquinas dos cafés, o alinhamento dos telejornais e os RM’s das rádios. Reúnam-se as comissões, apresentem pareceres. Se me esqueceste como ditam os press release que invadem as redacções, as circulares e os folhetos gratuitos da publicidade, então prova-o. Mas prova-o com relatórios conclusivos. Apresenta testemunhas oculares, as armas com que mataste o amor que me tinhas, a perícia balística, o local do crime, as impressões digitais. 
O que os média não dizem, é que quando te cansas dessa “coisa” morna e insípida com que te deitas, te rebolas na cama com a escassez da minha pele a incendiar a tua. E que até a recordação do meu beijo te queima os lábios como uma beata esquecida. E é por isso, apenas por isso, que a mim não convencem as notas oficiosas, ou os dizeres nos leads das notícias. 

Estava até capaz de te exigir um desmentido formal, em conferência de imprensa. Havias de te curvar perante a voracidade jornalística até te deixares abalroar pela torrente de perguntas, a imensidão de microfones e câmaras televisivas. Havias de recear a própria vida, e de te encolheres à agilidade agreste com que se amontoam e empurram os abutres da informação para te arrancarem a verdade. Nada mais que a verdade. E eu havia de ver-te declarar oficialmente em directo e em diferido, que sim, que ainda me amas e essa é a única razão de lembrares os meandros da minha boca e de me quereres ao teu redor a meio da rotina fastidiosa em que transformaste os teus dias.


AK

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