Aqui, à noite, há pirilampos

Fomos jantar. Era verão. Ao longo da estrada vislumbrávamos vaga-lumes a enterrarem-se na folhagem das ervas altas que delimitavam o alcatrão. Contornámos a rotunda, a conversa no interior do veículo animada e casual. Ele ria-se das minhas piadas, como quem está suficientemente tranquilo e descontraído para lhes encontrar uma nuance de humor, retorquia, quase sempre começando com "well, you are a little bit crazy, you know?" Depois dissertava de novo sobre as suas paixões, o que o movia, o que lhe dava ânimo para respirar os dias. Projectos. Tinha vários. Montes deles. Nem que fossem as viagens que ainda queria fazer e eu pensava para os meus botões: " tem 85 anos, de onde lhe vem tanta energia?" Bom, talvez a vida lhe tivesse ensinado que não basta olhar, é preciso ver, que não basta sentir ao de leve, como as brisas que nos passam a fazer cócegas na pele, é preciso estremecer, vergar aos vendavais para depois voltar a ficar de pé, enrigecer, tomar parte do cao...