A ""Lenda do Havn é daqueles livros que nos fala tão alto, que quase pede para ser lido."

(Só posso agradecer ao jornalista Bruno kalil pelas palavras tão bonitas!)


"A Lenda do Havn é daqueles livros que nos fala tão alto, que quase pede para ser lido.

Após ler este segundo romance editado pela Ana Kandsmar, depois de ter lido A Guardiã (1ª edição), posso concluir que é esta a obra que firma e afirma a maturidade de escrita de alguém que não está na literatura por acaso ou por equívoco.
A forma como a Ana dribla as palavras e constrói as imagens da trama é genuína e peculiar, mas sem (querer) ser transcendental. Daí, até, a ancoragem e enraizamento na realidade conhecida.

Entra dentro dos protagonistas sem aviso prévio, e disseca-os, deixando-lhes as vísceras renderem-se ao espanto de quem as lê. Incorpora e faz-nos mergulhar numa experiência mediúnica, que vai dos sítios mais belos aos mais atrozes locais do nosso imaginário; qual “thriller” tridimensional. E fá-lo com a cadência de um carrossel de animais que se desprendem para se enlear uns nos outros e nos deixar cavalgar na maciez quente-fria dos seus dorsos, num contínuo girar irrepetível.

Distribui sentimentos como quem reparte as cartas de um baralho, indo a jogo mas sem nunca esgotar os seus trunfos. Não tem pejo das palavras – nem das opulentas, nem das indigentes, ou sequer das rudes. E faz-nos aceitar a relatividade de um tempo que não corre num único e mesmo sentido.

História narrada com natural ritmo, elegância e vivacidade, mesmo quando em monólogo, onde a língua-mãe serve a intenção e a carga de cada “frame” que a sua câmara de palavras movimenta. E perde a compostura linguística quando sente que é de a perder.

Assinala os 100 anos do fim da Primeira Grande Guerra com uma mensagem antónima de Amor profundo e altruísta; ao mesmo tempo que sinónima de um Amor sofrido, que se carcome como só a pior das guerras. E de algum modo lança ao leitor o presságio de que a realidade pode doer tanto ou mais do que esta verossímil experiência literária.

Faz-nos sonhar e temer, como só um mago da escrita consegue fazer. 
Aquieta-nos, inquieta-nos, deslumbra-nos, perturba-nos.
Diamante bruto da escrita que não quer ser esculpido. Assim é A Lenda do Havn. Assim é a Ana, que escreve como sente e como vive – sem rodeios nem pudor. Ainda que pudesse jamais vir a escrever o que sente.

Bruno Kalil Fialho

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A Perdição de D. Sancho II, Paulo Pimentel

"Travessia no Deserto"