O Poder Redentor das Grandes Histórias



Na minha casa de infância, a parede que se elevava sobre a escadaria para o 1ºandar, estava decorada com várias fotografias emolduradas, fotografias dos Açores. Do Faial e da Terceira, do Pico e de São Miguel, do Vale das Furnas e dos Capelinhos, da Horta e do vulcão. E, da única maneira que me era possível amar lugares que eu não conhecia, eu amava os Açores através daquelas imagens. Admirava-as, sentada no cadeirão da marquise que a minha mãe havia transformado numa espécie de jardim de inverno, e eu, em biblioteca.

Entre livros e plantas ali estavam os Açores, a que eu, amiúde, levantava os olhos nos intervalos das leituras e, punha-me a mirá-los, pensando que talvez ali eu fosse feliz. 
Foram estas paisagens açorianas que retive e trouxe para a minha vida de adulta. 

Não fui às ilhas, ainda. Ou, pelo menos, da forma que desejei tantas vezes ter ido. Mas, o Meridiano 28 devolveu-me os Açores tal como me lembrava deles e tudo o que li nas suas páginas me fez sentido. 
Lembrei-me, então, de que nas fotografias da casa da minha infância não existia um Hansi Abke, um Roy ou uma Kathryne, não havia sinal de um Winston a galgar os caminhos do Faial. Não havia a música dos Sem Rei Nem Roque, nem mesmo as notas musicais de Sophisticated Lady de Duke Ellington mas, havia magia. A magia dos Açores estava lá e era a mesma magia que eu encontrava na narrativa de Joel Neto. 

Ao longo da história, fui experimentado um turbilhão de emoções. Dei por mim a fascinar-me com o Hansi, a zangar-me com o Hansi; a chocar-me com revelações; a torcer depois para que fosse real tudo aquilo que me tinha chocado antes; a enternecer-me com o José Filemom; a desiludir-me porque, afinal, o José Filemom não queria acreditar no mesmo que eu, e, dizia a mim mesma que no lugar dele, provavelmente, procuraria outras pistas, iria por outros caminhos mas, sim, faria sempre da Alice o meu porto de abrigo. 

Dei por mim a acelerar o ritmo da leitura, com pressa de lhe conhecer o fim, e, egoisticamente, a travá-la para ter a companhia dos personagens por mais algum tempo. Para saborear mais. Para sentir com maior profundidade o poder redentor desta grande história. Para me apaixonar ainda mais pela escrita de Joel Neto. 
E tudo foi conseguido. Tudo se concretizou. Chegada à última página, só consegui sentir gratidão. 
Obrigada, Joel Neto.


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