Mar

Morres onde? No frio da pedra? Na indiferença do aço?

Nas ruas do sangue? Porque é nos metais que intensamente vivemos. Crucificados sim! Acredita nisto que te digo, o tempo corre sobre o teu corpo e deixa marcas, sulcos e rastos de dores tristes, rios de prata, noites de amor que não aconteceram, mãos acetinadas. Também eu às vezes uivo. Como te contei, uma vez por outra, a lua chega e traz suspiros, ais, lágrimas, coisas que o pudor deve guardar. É então que sou uma loba... gosto de morder, de agarrar com os dentes, de ser por inteiro possuída. 
E tu,porque morres? Diz-me, o que é isso de morrer? Em que praia distante? Como se faz? Como fazes? Abres talvez as pernas e deixas que, impulsivo, te penetre o mar?

Ana Kandsmar


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