Romance...

Conheço muita gente que anda a trabalhar num romance. Eu, por exemplo, ando a trabalhar num romance, que é um pouco diferente de escrever um romance. Trabalhar num romance confunde-se com a actividade geral da existência. Bebo um café e estou, de algum modo, a trabalhar no romance. 
Conduzo mais absorta na música que ouço que na condução que faço e estou a trabalhar no romance. 
Fico a olhar melancolicamente pela janela do meu quarto e estou, mesmo assim, a trabalhar no romance. O romance, esse, não avança, tanto é o trabalho com que o sobrecarrego. Permanece em estado de crisálida, eterna possibilidade onde cabe tudo e não entra nada. 
É então que encontro outros que, como eu, andam a trabalhar num romance. 
Resumem intrigas, esboçam personagens no ar, prevêem glórias futuras, prémios Saramago, comendas, capas do suplemento do Expresso. 
Da crítica esperam que seja justa; dos leitores, que sejam milhares (mulheres novas em idade fértil, sobretudo); dos pares, a invejazinha fatal. 
Quanto ao romance, há-de aparecer, um dia... ou não...

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