Zumbidos na noite

"Ouvem-se zumbidos na noite. E, na hora sonâmbula, quem não sente dedadas frias na pele? Quem não sabe que há-de cuspir o âmago pelos olhos molhados até adormecer de cansaço? Quem não encarna a loucura que os deuses ofertam como abrigo entre os nadas e as solidões?
Sempre que adormecer na brisa, haverá alguém que me carregue em braços para o recôndito de uma alma?
Pergunto-me se acaso sentes o que há de encanto no amor incondicional e gratuito. O que há de encanto em fazer de um estranho, à custa de tanto o amar, a pele que envolve um abraço ou quanta magia existe em habitar sonhos alheios.
Pergunto-me se sabes o quanto dói esta visão vicariante da vida. A coragem de ser fraco na fortaleza alheia, e ainda assim a luz de que precisa o cavaleiro para apontar a lança, ou ainda o braço do cavaleiro que tantas vezes vacila. Pergunto-me se sabes que a dor que não sentes em ti e é dor no outro, é dor também."

Ana Kandsmar in Somos Imortais Mas Temos que Morrer Primeiro

Via Láctea, Rochas, Noite, Paisagem, Silhueta

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