Os imprestáveis

Não é que os imprestáveis não gostem tanto de animais para gostar mais de pessoas.Do que os imprestáveis não gostam é de ajudar.

A tragédia que se deu sobre os animais de Santo Tirso provocou uma onda de indignação nas redes sociais e centenas de pessoas foram além do Facebook, do Twitter e do Instagram para ajudar os animais sobreviventes. Muitos tentaram deslocar-se ao local para resgatar mais de uma centena de cães e gatos, outros criaram campanhas de angariação de fundos, precisamente, para apoiar aqueles que ficaram com contas de veterinários às costas e ainda custos com alimentação. Um bem-haja para toda essa gente que fez e faz alguma coisa. Um bem-haja para aqueles que são capazes de se sensibilizar com o sofrimento dos animais, um sofrimento que é, afinal, igual ao nosso. Morrer carbonizado, não é menos doloroso para quem tem 4 patas. É que os animais não são coisas, não são pedras, são seres vivos, sencientes, e com um nível de inteligência que muita gente, nomeadamente um certo tipo de gente que descrevo abaixo, devia invejar. 

Importa dizer que este trágico acontecimento revelou a existência de dois tipos de pessoas: as prestáveis e as imprestáveis.


Os prestáveis são-no, quase sempre, sem contrapartidas. As pessoas que são prestáveis acorrem às situações que encontram pelo caminho e ajudam, são úteis. As pessoas que são prestáveis, geralmente, põem amor no que fazem. Gente prestável não olha a quem ajuda. Ajuda e pronto. Isso inclui a ajuda aos sem-abrigo, aos idosos e até, pasmem-se, àqueles que os criticam: os imprestáveis. 

Sim, porque depois existe aquele tipo de gente que faz parte desse grupo dos imprestáveis. Esses são os que nunca ajudam, os que nunca saem da sua zona de conforto para estender a mão seja a quem for, são os que prometem muito e nunca fazem nada. Sabes, aquela pessoa que diz que vai fazer isto e mais aquilo por ti, mas nunca faz nada? Pois é, essa pessoa faz parte do grupo dos imprestáveis. Os imprestáveis só estão verdadeiramente disponíveis para fazer uma coisa: criticar quem faz, quem ajuda. 

Fala-se na forma desumana como se trataram aqueles animais e aparecem logo os imprestáveis a falar de animalismo, comparando ( no sentido de menorizar os animais) animais com humanos, bradando que aos sem-abrigo ninguém salva, ninguém adopta, etc, etc... 

Pergunta para essa gente: Quantos sem-abrigo já adoptou um imprestável? Deixem-me adivinhar: ZERO! Nem moedinha dão, não é verdade? Os imprestáveis passam para o outro lado da rua sempre que encontram à frente alguém que pede ajuda. Um imprestável não serve nem para indicar o caminho mais fácil para se chegar a algum lado. Os imprestáveis são aquele tipo de gente que vira a cara aos sem-abrigo. Os imprestáveis fogem a sete pés das campanhas de recolha de alimentos, quer as que decorrem em prol dos animais ou em prol das pessoas. 

O imprestável é aquele tipo que finge estar sempre ocupado só para não dar atenção ao que se passa à sua volta. O imprestável só olha para duas coisas: Para o seu umbigo e para a sua carteira. True story. 

O imprestável consegue fazer comparações incríveis, só para justificar a sua inércia. Agarra, por exemplo, nos animais que são vítimas da violência e estupidez humana, sobretudo, vitimas da estupidez e violência de outros imprestáveis iguais a ele, e compara-os com os idosos espalhados por lares ilegais, esses depósitos de velhos onde, frequentemente, são maltratados, e com os quais um imprestável nunca se preocupa, dos quais um imprestável nunca fala, a não ser que ocorra uma desgraça com animais, desgraça essa que sensibilize a opinião pública. 
Se nenhuma tragédia que vitimize animais acontecer, os idosos bem podem apodrecer nos seus lares ilegais que, como é sabido, com os imprestáveis não podem eles contar. 

Não acreditam? Vejam que foi preciso que morressem dezenas de animais carbonizados para que os imprestáveis se lembrassem dos idosos que vegetam nos lares. Acredito que não exagero se disser que, muito provavelmente, boa parte desses idosos enfiados em lares ilegais e outros que, apesar de legais deixam muito a desejar, são os pais, mães e avós dos imprestáveis. Os imprestáveis, são aquela espécie de gente que leva os seus pais para um lar qualquer, de preferência o mais baratinho e nunca mais lá põe os pés para os visitar. 

Os imprestáveis, por norma, fazem parte de uma raça que nunca faz acontecer nada e vai apenas a reboque do trabalho dos outros (muitas vezes recebendo os louros, pois eles são exímios em alardear o imenso trabalho que “realizam”. Todavia, quando fazem alguma coisa, não se iludam, pois, os únicos beneficiários são eles mesmos. 


Os imprestáveis costumam sentir uma total ausência de empatia para com os dramas alheios.


Com frequência, assobiam para o lado e esperam que outros ajudem para então se prontificarem a fazer uma de duas coisas: Ou acalmar a sua pequena consciência com a ideia de que quem precisa já está a ser ajudado, ou criticar quem ajuda. 

Tens algum amigo que ultimamente publicou coisas como: “As pessoas têm as prioridades invertidas, só se preocupam com os animais, mas não se lembram dos idosos nem dos sem-abrigo!” Tens? Então não contes com ele para nada porque, claramente, esse teu amigo é um imprestável. 

Pela tua saúde, aprende a identificar os imprestáveis. Assim, quando precisares de ajuda, já sabes a que portas não vale a pena bater. Aqui fica o resumo: O imprestável vem de uma espécie de gente desprezível, mais vulgarmente classificada como lixo humano (eles é que não têm noção), gente que, egoisticamente, cá anda no planeta a gastar os seus recursos e a consumir o oxigénio de que os prestáveis precisam para continuar a respirar e a ajudar. 

Como é óbvio, evidente e perfeitamente justificável, sim, eu gosto infinitamente mais dos animais,  do que dos imprestáveis.



Ana Kandsmar

 

 


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