Morreste-me...
Avó…não te digo nada que não te tenha dito antes. Entre nós não ficaram coisas por dizer. Amo-te, amo-te. Disse-to tantas vezes. Ouvi-o de ti tantas vezes. Fomos tão felizes, avó. Eu e tu, tu e eu. Não há nada que o meu coração não guarde de todos os dias que partilhámos nesta Terra. É o teu rosto que me acorre às primeiras lembranças da infância, a tua voz a chamar por mim, o teu riso a fintar as tuas tristezas, as tuas mãos ásperas, calejadas, as tuas mãos terra sobre a minha face, enxugando lágrimas. O teu café de borras, avó…ainda lhe sinto o gosto. E aquela aragem fina que passava pelo meio dos pinheiros quando caminhávamos juntas nos dias em que carregavas lenha. O mosto condensado nas tuas mãos em dias de vindima e as tuas cantigas que afastavam o cansaço. Tudo em ti é agora a mais terna das lembranças, mas não viveste em vão, avó. Não foi para nada cada dia em que acordaste, nem se reduziu à insignificância cada vez que respiraste. Eis-me aqui: a semente que atiraste à...