Alteridade da Ficção
Já faz tempo que não te escrevo. Decidi-me a parar por uns tempos, dedicar-me a outros registos que não me obrigam a tirar as palavras das entranhas. Elas têm estado como a minha vontade de te escrever: Quietas, como um bicho à escuta. Vai daí, eu tropeço em qualquer coisa tua e mexo-lhes. Às entranhas. É por isso que me saem agora em remoinhos de dor pela boca, às golfadas. Preciso de as serenar antes que a dor se infiltre outra vez nas minhas reentrâncias, nas reentrâncias da própria dor que se come por dentro. Ter o que te escrever, contradiz-me, é certo. Logo eu, que me tenho alimentado a restos de silêncios e detritos de lembranças mudas, não devia recomeçar agora com este enredo de palavras gastas. Na verdade, quero lá saber se em tempos me chegaste à curva do pescoço com beijos distraídos…ou se me soltaste letra a letra, da prisão das minudências do dia-a-dia e se eu te ansiei pelo gesto que assegurou a pertinência do amor…na verdade, depois d...