Paulinho
Brancas/1993 Às vezes temos medo. Do desconhecido. Às vezes julgamos conhecer o desconhecido e temos medo. O desconhecido pode ser uma imagem parada na nossa mente. Nublada. Ensombrada. Na penumbra. Pode ser a noite que é a penumbra mais densa que conhecemos. Ou pode ser o escuro. O vazio. O medo pode ter muitas formas. Pode ser um rapaz. Um rapaz num hospício. Pode ser o Paulinho. Encontrei-o pela primeira vez em 1993. Num dia de estágio de Saúde Mental e Psiquiatria nas Brancas. Primeiro vi as marcas do que fizera. O capot de um carro danificado no exterior do edifício. A coordenadora de estágio sorrira ao meu grupo e desculpara-se “foi o Paulinho, está tudo bem, não se assustem, foi só o Paulinho”. Soaram dentro de mim as campainhas de alarme. Quem seria o Paulinho? Quem seria aquele ser que danificara a viatura? Porque o teria feito? Em que condições o teria feito? As perguntas martelavam a minha mente, mas logo deram lugar à necessidade de dispensar atenção para