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A mostrar mensagens de novembro, 2017

O Profano do Sagrado

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Não há heresia mais traiçoeira do que o fundamentalismo religioso. Tomem-se os exemplos mais conhecidos, os vértices do triângulo mitológico formado por judeus, cristãos e muçulmanos em torno do mesmo Deus. Não é preciso mais do que um olhar, a leitura de duas linhas, um minuto do som que emitem, para termos a exacta sensação de que os fundamentalistas de qualquer das três doutrinas estão do lado do bandido. Só para lembrar exemplos mais vivos na memória, cito três, - que ainda por cima fizeram a política do fundamentalismo religioso: Bush, Bin Laden, Bini Netanyahu (acreditem, Ariel Sharon foi quase um menino de coro ao pé deles). O que é que os três inspiram ou inspiraram? Ódio, medo, repulsa. No que é que os três basearam a sua popularidade? Na disseminação do ódio, medo e repulsa. E como é que o medo, ódio e repulsa podem estar ligados ao que é divino, criador, iluminado? Só pela via da apropriação indébita. Os ditos fundamentalistas tomam para si o que não é se

Funeral

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Não o faço diariamente, mas volta e meia instruo os meus filhos sobre o meu funeral. Não que a morte me espere já ali ao virar da esquina, mas sei que me espreita. Cruzou-se comigo algumas vezes. A primeira de que me lembro, eu tinha 4 anos e olhei-a nos olhos, no fundo de uma mina de água. Por entre o lodo e musgo verdete, folhas de nenúfar a dormitar silenciosamente sobre as águas, ela deixou-me passar incólume, de regresso aos braços da minha avó. De novo nos voltámos a encarar aos 19, nessa altura num bloco operatório gélido e imaculado. E outra vez aos 30. Apanhou-me de surpresa a cruzar um tapete de alcatrão. A chegada dela fez-se acompanhar de um baque ensurdecedor. Tombei com a cabeça sobre o vidro que se estilhaçou e de um ângulo completamente novo, observei toda a parafernália que habitualmente envolve um acidente na estrada. Muita gente curiosa se juntou, dando livres asas ao desejo de ver sangue, os bombeiros e a polícia assinalando marcha de urgência, desenvolve

(não) Aprendi a viver sem ti

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Aprendi a viver sem ti…. Queria dizer-te. Mas na verdade talvez não tenha ainda aprendido a viver sem ti. Acho até que este caminho (o da tua ausência) é um caminho longo e cheio de curvas e sinuosidades. A tua névoa serpenteia-me o trilho e tolda-me a vista, faz-me tropeçar em bocados teus que a minha bagagem vai soltando.  Tenho-te nas horas contadas entre uma paragem e outra, como um marcador do tempo, um cronómetro rigoroso e inflexível que me exige atenta às coordenadas e ao compasso certo da caminhada. Por isso, não, não aprendi a viver sem ti.  Se ainda me mexo é porque me imagino a fazê-lo na tua direcção, mas olho-me, vida à velocidade da luz e não distingo passados e futuros.  Já não sei onde tu estás. Se atrás de mim ou à minha frente.  Eu poderia realmente aprender a tua ausência como algo inultrapassável, incontornável, irremediável. Olha, como… como se tu fosses um defeito meu de nascença, uma doença crónica, uma carência vitamínica ou um incómodo sazonal como

Odeio-te, filho da puta!

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  Odeio o teu andar silencioso em corpos sãos, gente de boa índole e de coração que apanhas à traição. Odeio que não dês sinais, que não escrevas uma cartinha a dizer que vens e que ainda que ninguém te queira, não te vais. Odeio-te, filho da puta! Odeio que te faças presente na vida da gente e que coloques um abismo à nossa frente. Odeio que nos roubes os sonhos e a esperança, a felicidade de acordar os dias sentindo que o mundo ainda nos pertence. Odeio que nos empurres para dentro de uma redoma negra e fria, um desolador recôndito que só tem os teus olhos, igualmente negros, igualmente frios. Odeio que nos dês uma bata branca e uma cama de hospital, remédios amargos e vómitos, tudo o que poderia correr bem a correr mal. Odeio que o mundo se afaste e continue a existir sem nós, e que enquanto tentamos ganhar-te nos sintamos tão sós. Odeio que o relógio não pare e avance em direção à morte e que em todas as horas do dia amaldiçoemos a nossa sorte.

O voo dos condores

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Não sei se escrevo por gosto, necessidade ou se por vaidade. Talvez o faça por todos esses motivos e outros que não fui ainda capaz de descortinar. Acima de tudo, acho que escrevo para me esvaziar. É a minha forma (quem sabe?) de me ir matando aos poucos como se de um golpe na ulnar se fizesse a escrita e o meu sangue jorra-se criando frases com os meus fluídos, textos com as minhas vísceras e livros inteiros com várias partes do meu corpo.  Descarto-me assim de coisas minhas que já não quero a morar em mim. Histórias grandes, extensas, complexas, cenários, personagens que vivem através de mim o que me cabe apenas imaginar. Crio universos que dependem do meu punho para que não fiquem eternamente desabitados.  Escrevo realidades e misturo-as com sonhos, quimeras, mundos apocalípticos, renascidos, que me soam ao canto das sereias e me desafiam a viver neles. Escrevo sobre a folhagem seca que cobre os caminhos do Parque no inicio do Outono, sobre a escalada íngreme até ao c

in: A Guardiã- O Livro de Jade do Céu

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É preciso alguém que nos acompanhe para que não fiquemos sozinhos com o resto do mundo. Porque é no que o mundo se tornou: Restos. Restos de paz, restos de amor, restos de sonhos e de bondade. É por isso que já ninguém quer este mundo. Ninguém gosta de restos.  Secretamente sonhamos com os apocalipses. Os bíblicos e os cinematográficos. O Day After que há-de vir carregado de novas possibilidades. Um Armagedom promissor, um desvio de rota que nos leve a bater de frente com um pedregulho espacial ou que nos conduza à entrada abrupta num buraco negro, de minhoca talvez, uma dobra no universo que nos catapulte para os novos amanhãs tão diferentes de hoje.  Secretamente desejamos o fim. Invejamos o jurássico e as eras glaciares. A hecatombe há-de salvar-nos de nós mesmos, qual arca a proteger-nos do dilúvio. A morte há-de salvar-nos da vida.Secretamente desejamos o fim.  É a possibilidade do Fim que nos fascina nas profecias. Incumpridas. Em vez do alívio trazem-nos a frustração

Almas Gémeas

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Não deve haver coisa mais triste neste mundo que nos apaixonarmos pela nossa alma gémea. Não falo daquela tristeza que nos pára os sorrisos à chegada, falo de uma tristeza que se veste de alegria, de coração quente, de sangue que nos pula nas veias, de ilusão. É tão fácil gostar da nossa “alma gémea”, mas tão fácil, que será muito fácil pensar que se gosta de alguém quando de facto apenas gostamos de nós, num outro corpo. O que acontece é que todos andamos à procura dessa “alma gémea”, dessa coisa que nos completa, que nos deixa confortáveis, e amar - se for possível - não pode ser só uma forma de conforto, não deve ser só um cobertor que nos aquece a existência dos sentidos. Sentir é muito mais do que adormecer. É ouvir, é ver, é gesticular com as palavras, é ir mais além, é discordar e mesmo assim querer ficar tempo, mais uma hora, ou duas, só para sentir o prazer de não concordar! Chegam a ser irritantes aquelas pessoas que acabam as frases umas das outras, que se ri

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Sabes em que momento, em que fracção de tempo, nanomicromili segundo, me colonizaste a órbita ocular e ficaste aí retido para sempre? Eu não sei. Tal como não sei em que vertigem, tremor das minhas mãos no teu tronco perfeito, a tua pele grudou na minha como uma impressão digital, uma queimadura em terceiro grau, tão profunda, que me atingiu os músculos e os ossos e derrapou para as células ao ponto de hoje se confundir com o meu ADN. Ainda ontem, hoje.… ainda hoje me pergunto que bênção me foste, dádiva de deuses perversos, ocupados na perdição das mulheres, (ou apenas na minha), que logo te fizeram cruz às minhas costas.  Queria perceber o que te fiz ao certo, para me obrigares a carregar-te pela moínha dos anos como uma penitência amarga.  Nós dois, tristes remedeios de tanto que não vivemos, somos agora mãos dadas nos paraísos que nos saltam aos olhos em folhetos de viagens, assimétricos como letras escritas à mão, cedendo cada vez mais ao conforto morno da redundância e

in: Mar de Deus

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E então, eis a matéria de que sou feita: A(na)tomicamente predisposta à mudança, ao risco, e isto é, em primeira, segunda e última instância, Viver.  Primeiro que nada a queda. O salto sem pára-quedas no vazio, o embate doloroso na rocha nua, a dor, os rasgões, a alma a contorcer-se num oito. Depois, bem... depois há sempre uma brisa que me seca as lágrimas. Ressurjo do meu féretro, desenrolo-me como um bicho de contas que se abre e esperneia. Espeto o indicador a perceber a direcção do vento e sigo. Dorida. Sofrida. Mas avanço convicta de que ficar ali no meio da dor tem o seu tempo útil, e o tempo útil é apenas aquele que é usado para entendê-la, o tempo suficiente para dissecá-la, para esquartejá-la, esmiúça-la. No fundo, torná-la, não pequenina ou insignificante, mas transportável. Não há dor que não possa ser usada como um bom manual. Por isso, carrego sempre as minhas dores. Não ao alcance do meu coração, mas sempre na orla da minha mente. O aprendizado emerge delas e is

Negócio da China

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Já lá vão alguns anos. Quantos? Um? Dez? Cem? Mil?  Tantos para tão pouco que dura uma vida. Demasiados, com excessivos fins e recomeços, uma miríade de dias em que te esqueço e volto a lembrar.  Experimenta somar o cansaço dos meus ouvidos à escuta, na mira de um suspiro teu, de um relance foragido, de um sopro.  Conta-me as palavras que em troca se enredaram na parcimónia das tuas. Salva-me das memórias brumosas em que me afundo e me vejo fantasma de um pirata no nevoeiro, sem rumo.  Adivinha-me os quereres solitários e atenta no que percebo de nós dois em tanto tempo. Que não te engane o meu palmilhar insistente nas linhas da tua pele.  Nunca perdi a noção risível do quão patético é o amor de um só lado. Contudo, ele foi inevitável, arrebatador, e ainda assim incumprido no seu silêncio emparedado. Já lá vão afinal, quantos faz de conta? Quantos fingires de que há tanto em nada?  Quantos simulacros de madrugadas a dois, diálogos inventados, mãos a tocar o vazio? 

Sou uma ostra

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Descobri que sou mais feliz quando estou infeliz.  Que o sofrimento é pai e mãe da criatividade, que da dor nascem as musicas mais belas, os textos mais sumarentos, ricos e emotivos.  Descobri que tenho um lado masoquista, que sinto prazer na dor,que me delicia a solidão e que brindo à sua chegada,copo de vinho numa mão, cigarro na outra, musica de Bach ao fundo a acompanhar espirais de fumo e a concorrer com o som das teclas.  Nada me dá mais prazer do que escrever. Nem o sexo destrona a escrita...nem o amor, fazê-lo, fodê-lo... Gosto do orgasmo mental... e desenrolar as palavras, rasgar a alma e vomitar sentimentos...gritar pelas pontas dos dedos...Gosto da tristeza.  Não de uma grande tristeza que me paralise e me transforme em estátua de sal, não da que traz desespero, nem pensamentos sombrios; nunca imaginei pulsos cortados, nem pés descalços sobre o parapeito de uma janela, nem o vento frio na plataforma de uma estação de comboios.  Não da tristeza que traz só tédio,

Detalhes

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Nunca cheguei a saber do que mais gostas. São tantas as coisas tuas que me passaram ao lado e se dissolveram na minha ignorância de ti. Jamais soube qual é o sabor do teu pudim preferido, quantas colheres de açúcar no café, o nome do último filme que viste, o livro na tua cabeceira, quanto tempo entre o duche e o pijama, ou quantas vezes deixas tocar o despertador. Enfim, dos rituais, das rotinas, daqueles chatos e enfadonhos gestos com que preenches os dias maquinalmente, sem novidade, sem tropeção no improviso, só posso atirar à sorte. Os que conheço, são poucos, pequenos nadas, partículas ínfimas da tua existência, micro- hábitos na vastidão dos teus dias, que foste deixando escapar por entre as brechas breves dos nossos corpos colados. Sei que, entretanto, já tudo pode ter mudado. Mas lembro-me da tua mania de refilares por causa da persiana velha que, atrevida, te brindava todas as manhãs com os primeiros raios de sol, e à noite, permitia a invasão dos pequenos la

A Vida dá Muitas Vodkas

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Bebi vodka. A bebida queimou-me por dentro e as lágrimas queimaram-me por fora. Jorraram impiedosamente pela minha face, incontroláveis. Há muito que não soluçava como uma criança pequena. Colapsei. Depois da louça partida, o chão da cozinha repleto de cacos, dou-me conta de ter mergulhado no escuro.  Imagino que falo com Deus, mas as minhas palavras soam perdidas no silêncio do Criador. Quer lá ele saber! Sou apenas mais uma entre milhares, milhões de outros seres humanos que reclamam da vida. Ou que se perderam no labirinto da vida. Sei lá eu onde me encontrar. Às vezes sinto-me estéril. Olho-me ao espelho e aparece-me o reflexo de um Atlas de costas vergadas e pernas trementes, o mundo às costas.  Volto à vodka. Aos cigarros e a qualquer porra que me anestesie. É nestas horas que tenho pena de não ter xanax, ou prozac, ou pelo menos, coragem. Entre o copo e a baforada, o riso de Deus a confundir-se com o tilintar do gelo no copo. Ri-se. De certo que me olha e a

Amei-te antes, muito antes de te conhecer

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Quando te vi pela primeira vez, limitei-me a comprovar um facto e a reconhecer a evidência do teu corpo, obviamente concebido para encaixar no meu até ao ponto de nada verter entre ambos. Tive vertigens e arrepios, coisa de que não estava à espera, mas que agora até entendo. Nada aprendi que então não soubesse: Antes de nós, andáramos a perder tempo.  Achei-te tão inevitável como primeiro ser dia e depois noite, e quase feio, embora de imediato me tenha apetecido lamber-te a pele morena, muito mais morena do que na primeira fotografia que mostraste, como se fosses chocolate e eu avida por guloseimas.  Ainda sem nada termos dito e já as palavras obsoletas e inoportunas, os preliminares. Tive vontade de uivar, arfar e copular - não necessariamente por esta ordem - logo ali em cima da mesa do bar, com aquela ausência de moral que assiste aos repentes animais, em especial aos que urge satisfazer com barulho e sem qualquer outra razão que não a do formigueiro que nos tortu

Sinais...

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Queria deixar de gostar de ti. Extrair da minha pele as marcas perenes das tuas mãos e ser capaz de me esquivar desta loucura silenciosa que se enclausurou aqui dentro.  Não sei se sabes, mas a minha saudade é intermitente. Chata. É uma raiva insustida que tem sede do teu beijo e viaja melancólica no tempo até àquele momento preciso em que a tua voz ecoava nos meus ouvidos.  Hoje queria-te diferente, sabes? Não esta ferida incómoda que não sara, esta incisão aberta a segregar o pus da tua ausência.  Não me posso arrancar os membros um a um até que me esvaia em sangue para me esvair de ti. Nem tão pouco me posso deixar vencer pelo cansaço nem pelos rancores nauseantes que as milhas entre nós me fazem percorrer.  Queria, era aparecer-te linda, ciente dos pormenores de que não abdicas: saltos altos e rendas nas lingeries que ainda guardo para ti no fundo da gaveta.  Queria abrir-te as pernas e o coração para que te alojasses sem pompa nem circunstância, com pleno direito

in: Mar de Deus

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(...) E quando a determinada altura da vida, uma única gota te fizer transbordar, será nesse preciso momento que tens que dizer "Basta", e recomeçar tudo de novo (...) AK

Vais ou vens-te?

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Sabes bem que não tenho medo. Não te receio esse ar de fera enraivecida, garras de fora, o rugir que escondes no silêncio que impões entre nós.  Fica sabendo que não tenho medo. Não me tomes por santa, sou de pau oco. Peace and love não cabem em trincheiras frias, abertas a investidas. Pudor e moral, falham-me no amor e na guerra e não é a religião que me salva.  Se já te vi um Deus, hoje sou agnóstica, ateia, pernóstica, sou copérnica: circundo-te heliocêntrica, e que se lixem os outros. As outras. A outra. Aquela com quem estás agora. Essa coisa aspirante a delicodoce, peganhenta, que abraças como fazem os políticos às velhas asquerosas, em campanha eleitoral.  Não receio sequer que não me suportes, que me odeies, que espumes de raiva plos cantos da boca. Já não pode haver dor que me faça soçobrar mais do que isto.  Tenho dor de corno, dor de burro, de cotovelo. Se até aqui te deixava barco à deriva em alto mar, era porque nos tínhamos porto seguro.  Não te imagin

No Fio da Navalha...

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Espantam-se aqueles que me conhecem bem e sabem que defendo, muitas vezes, aquilo que parece a muitos só defensável por partidos de Direita. Todavia, há que dize-lo, Direitas há muitas, e a minha é definitivamente uma Direita torta. Ou se quiserem, de uma Direita que também se revê em apêndices de Esquerda, se é que se pode dizer que essa Direita existe. Talvez seja afinal uma coisa muito minha olhar com desconfiança para multiculturalismos e abominar capitalismos, aplaudir a soberania dos Estados e invocar a cooperação entre eles, ter horror a touradas e condenar a IVG. Acho que mais do que ideologias politicas e partidárias, sou uma idealista pela Humanidade. Entendo que o Bem Comum se sobrepõe ao Bem Individual e contra-senso ou não, parece-me que é impossível ao Bem Comum existir se não passar primeiro pelo Bem Individual. Sigo a premissa de que indivíduos felizes fazem comunidades felizes. Comunidades felizes fazem nações felizes e nações felizes…bem, parece-me óbvio, faz

" Sexy-Fresh-Pop"

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Se eu mandasse em Portugal, a ASAE deixava de fiscalizar casas de pasto e os respetivos prostíbulos anexos. Deixava de implicar com madeiras emporcalhadas e cagava na cena dos PPL-PPP-PPC (pia-para-legumes; pia-para-peixe e o resto já sabem).  A ASAE para já, mudava logo de nome porque eu não o entendo na sua totalidade: “Autoridade de Segurança Alimentar e Económica” -eu entendo o que seja segurança alimentar, afinal temos de estar atentos ao que metemos na boca, na medida do possível. Mas segurança económica? São poucos os que podem dizer “sinto-me seguro economicamente”. E esta (in)segurança nada parece ter a ver com a ASAE. Mas, como dizia, a ASAE transmutar-se-ia para a Autoridade de Segurança Auditiva e Económica (afinal não interessa se uma pessoa entende ou não o termo, acabo de aprender que o que importa é soar bem) e passava a fiscalizar locais de diversão diurna de entrada livre, como a Stradivarius ou a Bershka. Licença comercial só após o emudecer de uma Rihan

A Mulher da Minha Vida

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Revisito velhas fotos para reencontrar a minha avó. Vejo-a nos seus sessenta e poucos anos ainda tão activa e tão linda (a minha avó sempre foi linda) com um lenço a cobrir-lhe os cabelos.  Os olhos da minha avó que já tinham o brilho das turquesas acendiam ainda mais com a simplicidade dos pequenos gestos, gentis, amorosos. Acendiam com as boas novas dos filhos, dos netos, os outros netos que ela também amava com aquele coração grande, oculto pelos seios fartos. Às vezes gotejavam quando me olhava triste, por qualquer adversidade da vida, e procurava no meu sorriso infantil a motivação para não cruzar os braços.  Lembro-me de que nunca tive vergonha da minha avó.  Nunca me embaraçou o seu ar provinciano, o seu lenço de camponesa, as suas mãos calejadas. Mãos nodosas, mãos ásperas, mãos terra. Nunca a desejei diferente do que era. Nunca achei mais bonitas que a minha avó, as outras avós aprumadas, elegantes, de cabelos armados a cheirar a laca. Não me importava que ela n

Old Game

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Diz-me… quando fixas os meus olhos parados a olhar os teus, as minhas frases curtas, comedidas, refreadas, um “sim é verdade, eu amo-te”, o que fazes? Enches o peito de orgulho nas tuas competências de sedução, ainda que para isso nem mexas uma palha, ris-te a bandeiras despregadas ou abres um champanhe francês para comemorares a vitória?  Vá lá, podes admitir que vês em mim um jogo e que me contemporizas as derrotas de cada vez que eu carrego no “send”. Aliás, em cada cartada, arrecadas mais um troféu. Sim, podes chamar a isto um jogo. Eu não me importo. Seja então um jogo. Um jogo arrancado da vida, o que faz dele um jogo muito maior. A mim, que me fico pelas damas e um péssimo xadrez, falham-se-me por isso as analogias.  A memória curta não me faz adversária decente, qualquer expressão no meu rosto já está catalogada por ti e por isso nem me adianta gritar-te “bullshit” porque a distracção congénita que me governa dissolve-me a acutilância e o atino, necessários à fun